Devaneios em Parceria
  Meus olhos tonteiam á sua procura, minhas mãos tentam sentir teu toque, e tento sentir seu perfume exala e preenche o ambiente. Não sei se meus olhos se fecham ou alguém me impede de te ver. Onde você está?
  Naquele momento momento, estava no último lugar onde nos olhamos, onde eu queria que o mundo parasse. Ali debaixo da árvore que enfeitava o chão com suas folhas douradas, estavamos nós, eu sentindo seu toque e seu perfume. Meus olhos, não procuravam mais nada além de você. Como seria bom se o tempo pudesse parar ali naquela hora...




Zeca
Devaneios em Parceria
   Hoje seria a noite em que eu saberia quem era Ela. Não aguentava mais ficar abstraído em cadeiras e meus postos, sem poder embriagar-me com sua beleza tão distinta. Era linda. Sua resplandecência era tamanha que refletia como lâmina em meus opacos olhos, já tão verdes e tão claros. Ainda não tivera a tremenda satisfação de flagrar o seu olhar em mim, e descobrir a cor de seus olhos. O cabelo, parecia tão sedoso... um convite tentador. Imaginava aquelas madeixas escorregando por meus dedos, perfumando a minha pele...
   Permiti-me voltar ao presente. Estava parado ao lado de meu superior, fingindo ouvir suas histórias. Não o fazia, pois estava ocupado demais vigiando a bela mulher que adentrava o grande salão decorado. Em pouco tempo eu já havia dispensado, educadamente, o constante monólogo do homem e partido para perto de onde Ela estava. Sentou-se na poltrona vermelha. Não estava sozinha, por isso não me dispus a ir ao seu encontro. Ainda não. A três metros de distância, eu a admirava. Como era sedutora... Quando virava a cabeça e deixava á mostra a pele nua de seu pescoço, eu quase não resistia, tamanha era a vontade de tocá-la. Assim que a música tocou na Corte, suas companhias saíram em busca de seus pares, enquanto ela os dispensava. Esta era a minha deixa.
   Arrumei mais uma vez o cabelo cuidadosa e imaculadamente já ajeitado, e parti para perto dela.
   Sentiu minha presença logo que cheguei, e encantado peguei sua frágil e delicada mão na minha.
   - Bem vinda á Corte, adorável senhora. Creio não ter tido o prazer de conhecê-la ainda. Permita-me que me apresente. Sou mais conhecido como Conde de Viega, mas para você pode ser apenas Pietro. Pode me dar a satisfação de saber seu nome?
   - Obrigada, Pietro. Me chamo Paloma Perón.
   - Pode me dar a honra de dançar comigo?
   - Pois não, Sr. Conde.
   Mal pude acreditar que estava fitando seus olhos, tão de perto. Estava com minhas mãos nela, tocando-a. Seu corpo era tão quente que o calor chegava até mim em ondas perturbadoras de desejo e admiração. Estava enfeitiçado por seus olhos castanhos, tão líquidos que eu seria capaz de mergulhar neles. Seu olhar felino me prendia, atiçava as luxúrias que guardava mais intimamente em meu ser.
   Dançamos mais algumas músicas, e ao som do tango seu rosto aproximou-se, até que nossos lábios se tocassem. Nesse momento meu corpo explodiu em fogo, totalmente entregue á sua tão enlouquecedora sensualidade. Carregava em seu corpo, o mesmo que eu estava sentindo, como se também o estivesse reprimindo. Loucos de desejo, subimos até a torre, onde deliciei meus olhos vendo a sua tão pálida nudez. Era uma beleza divina... maior o que qualquer outra no mundo. Entregamo-nos um ao outro enquanto a lua cheia banhava o aposento. Penetrava-a com extrema paixão, e ela me recebia do mesmo modo.
   Naquela noite desejei que tudo fosse eterno, e que pudesse desfrutar da paixão de minha tão quente e doce Paloma o quanto fosse possível.
                  
Devaneios em Parceria
   Era uma típica tarde de sexta-feira.
   Parecia que nada podia abalar a pequena cidade naquela noite. Mas algo abalaria. Como de costume, choveu o dia inteiro. Não era possível notar o padrão se a pessoa não soubesse o que procurar.
   Richie estava encostado no capô de seu Mercedes, observando o ponto exato em que a chuva alcançava o seu ápice aquela noite. Exatamente na parte do dia em que não era claro, e nem escuro.
   O anoitecer.
   Logo, a neblina cobriu o chão, e todo e qualquer vestígio de vida que havia em volta dele desapareceu. Estava na hora. Andou sem esforço pela encruzilhada    tomada de pedras, e carregou seus vinte e cinco anos até o seu centro. Havia trazido os objetos de que precisava. Ossos, foto... e tudo o que era necessário.
   Estava completamente só na encruzilhada sombria. Pegou a caixa em que carregava tais itens e enterrou na terra. Foi naquele momento que ele a conjurou.
   Assim que terminou os dizeres em latim, ela apareceu. Era extremamente bela, mas tinha olhos cor de sangue, e suas feições eram aguçadamente felinas, típicas dos filhos do demônio.
   - Boa noite, Richie. O que posso fazer por você?
   - Eu quero fazer um pacto.
   - Tudo bem. O que quer?
   - Você.
   A resposta a surpreendeu, e espalhou um sorrisinho malicioso por seu rosto.
   - Quer amar a um demônio, rapaz?
   - Me dê o seu preço.
   - Deixe-me pensar. Não tenho muita paciência para essas bobagens humanas, Richie. Posso lhe dar dez anos. Mas é só isso. Apesar que... não consigo pensar em nada que valesse a pena receber em troca.
   - Que tal se eu lhe prometesse... um eterno culto, algo assim?
   - Não me convenceu.
   - Posso desencaminhar muita gente. Levá-las pro seu lado.
   - Ainda não é o suficiente.
   Ela começou a se afastar. Desesperado, ele ofereceu a sua última carta.
   - Espere! Eu lhe prometo... minha alma.
   Ela virou-se, evidentemente satisfeita.
   - Ora ora, rapaz. Isso sim é uma grande oferta.
   - Então quando for a minha hora... pode me levar pro inferno, para onde quiser. Apenas seja minha.
   - Tudo bem. Vamos selar o pacto.
   E com um beijo, o acordo foi fechado.

   Quinze anos depois, Richie não poderia estar vivendo uma vida mais miserável. Tinha pesadelos horríveis, e  quase não saía de casa, com medo de morrer e ir para o inferno. Para ele, aquilo tinha sido uma burrice. Nenhuma realização poderia compensar o que ele vivia. Mas o pior de todos os seus medos, era que o seu filho cometesse o mesmo erro.
   Richie o estava observando. Não tirava os olhos de uma menina, que era filha de um dos grandões daquela cidade, e que não estava nem aí para ele. Aquilo ia além de amor... era uma obsessão. Isso preocupava o pai.
   - Droga, pai. - disse exasperado - Juro que acho que seria capaz de vender a minha alma ao demônio para ter essa garota...
   A frase do garoto reviveu os medos do pai. Um riso cheio de sarcasmo saiu de sua boca e ele lhe respondeu.
   - Não faça juras ao demônio, filho.
   Sem entender, o garoto perguntou:
   - O quê? Como assim... por quê?
   Hesitou.
   - Porque ele pode ouvir.
   O vento entrou na sala, cortando o fio da palavra.
                                                                                                                       Vanessa